Catia Chris é minha nova entrevistada. Cantora, ela esbanja talento e beleza. Está na estrada há bastante tempo. Chegou a trabalhar até no Japão. Conheça um pouco de sua trajetória neste bate-papo.
Catia Chris é minha nova entrevistada. Cantora, ela esbanja talento e beleza. Está na estrada há bastante tempo. Chegou a trabalhar até no Japão. Conheça um pouco de sua trajetória neste bate-papo.
Eduardo Leite está se saindo muito bem como mestre de cerimônias, tanto em eventos de formatura como em corporativos.
Conheça aqui um pouco de sua trajetória neste vídeo que gravei com exclusividade.
Amorim Leite
O ramo de formaturas é muito rico em profissionais de primeira linha. Por ele transitam excelentes organizadores e coordenadores, assim como artistas que acabam sendo, muitas vezes, a cereja do evento.
Muitos músicos, incluindo vocalistas, estão ou estiveram em bandas de cantores renomados como Sérgio Reis, Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano etc., sem falar dos que estão em emissoras de televisão e em navios.
Entre esses artistas, temos os chamados “corais”, que, atualmente, são representados por duplas ou até mesmo um vocalista. Laura Wogan é uma deles.
Mineira, nascida em Betim, ela começou a cantar aos seis anos. Incentivada pela mãe, ainda pequena participava de concursos e já ganhava “um dinheirinho”. A casar-se com um músico, mudou-se para São Paulo, cidade em que começou sua trajetória em bandas.
Hoje, estudante de odontologia (formar-se-á em 2016), Laura não pretende parar de cantar e promete tocar as duas carreiras paralelamente.
Na entrevista abaixo, Laura Wogan conta um pouco de sua trajetória profissional ao jornalista e mestre de cerimônias Amorim Leite.
(Re) visitar!
Esta semana, revia os milhares de fotos que tenho arquivados em HD externos, registros de algumas viagens dos últimos anos. Não as “visitava” — ou seja, não as via com frequência — há muito tempo.
Mexi nesse baú digital para selecionar fotos e colocá-las no Flickr. Ao reencontrá-las, acabei fazendo uma nova leitura a respeito de cada uma. Algumas me surpreenderam, pois já não me lembrava da cena, o que me fez voltar ao lugar visitado. Outras me chamaram a atenção pela (má) qualidade: enquadramento errado, ruído na cena, ausência de foco e esquadro etc. Felizmente, as surpresas positivas foram em maior número no balanço final.
Ao caminhar novamente pelas fotografias, fiz algumas constatações:
Se o leitor tem fotos antigas, experimente fazer essa mesma viagem e (re)visite sua história. Você vai se surpreender com o que verá.
Amorim Leite
Antônio Ermírio de Moraes. Acabei de ler Antônio Ermírio de Moraes — Memórias de um diário confidencial, de José Pastore (Editora Planeta do Brasil). Como se depreende do título, trata-se de uma obra biográfica, “uma coleção de memórias que relata meu convívio com ele [Antônio Ermírio] durante 35 anos de boa amizade”, explica o autor no capítulo introdutório. “Sou feliz por ter desfrutado de uma grande intimidade com ele.”
Pastore descreve com detalhes diversas áreas do empresário: formação, personalidade e jeito de ser, atuação como líder influente, participação na política brasileira, obras no campo social, incursão no terreno do teatro e permanência na mídia e no cotidiano brasileiro. Tocou muito em seus “valores e princípios, relatando passagens interessantes e até pitorescas de sua vida”.
Alguns dos inúmeros relatos interessantes reproduzo abaixo:
— Sempre que um político me pede para financiar alguma coisa, por exemplo, a construção de uma escola, peço para me trazer o projeto. Primeiro confiro sua finalidade, depois entrego-o aos técnicos da minha equipe. Eles examinam todos os detalhes e contratam uma empreiteira que constrói a escola por um terço dos recursos que o político solicitou. Quando a obra fica pronta, deixo-o “faturar” a iniciativa.
……
— Governar não é dar ordens, e sim fiscalizar, cobrar, acompanhar e fazer acontecer. Se eu fosse só dar ordens em minhas empresas, poderia entrar na Votorantim às 7 h e sair às 7h30…
……
— Se eu posso fazer isso na iniciativa privada, já imaginou quanto ganharemos em eficiência se fizermos no governo?
Conheci Antônio Ermírio de Moraes pessoalmente. Em várias formaturas apresentadas por mim, ele foi patrono. Era muito engraçado vê-lo curvado sobre a tribuna do Anhembi discursando para seus afilhados de administração ou engenharia. Não me lembro de estar com algum papel nas mãos. Sempre citava números e mais números para comprovar o que dizia — aliás, sua memória e conhecimento são muito destacadas por Pastore.
Na sala VIP, antes de se iniciar a formatura, Antônio conversava com todo mundo, sempre com muita simpatia. Como mestre de cerimônias, eu só observava. Certo dia, saindo do Anhembi, após mais um evento de formatura, senti meu braço ser puxado por alguém. Ao olhar para trás, meus olhos foram acompanhando o corpanzil até me dar conta de que quem me puxou era Antônio Ermírio. Fiquei surpreso por duas razões: primeiro, por ele não ser um homenageado; segundo, por ele me reconhecer como apresentador. Perguntei-lhe porque não foi à sala VIP e ele disse: “Hoje, vim prestigiar um formando, filho de um amigo meu. Meu lugar era no auditório”. E na sequência teceu breves elogios ao meu trabalho. Despedimo-nos ali.
Voltando ao livro… Segundo Pastore, Antônio tinha um lema e o repetia inúmeras vezes: “A arrogância é a pior herança para se deixar a um filho. Depois da arrogância, as piores doenças são a indolência e a preguiça”.
Ao se “despedir” dos leitores, o autor diz no último capítulo: “Se, de um lado, carrego na alma a tristeza de testemunhar hoje em dia o precário estado de saúde de Antônio Ermírio de Moraes, de outro, guardo a alegria de ter podido relatar neste livro um pouco do que anotei das boas lembranças de um longo convívio com um ser humano que, como todos nós, teve virtudes e defeitos. Mas uma coisa é certa: ele sempre amou o Brasil, continua amando, e será eternamente lembrado como um grande brasileiro”.
Há alguns anos, Antônio foi acometido de uma doença que o impediu de andar. Na sequência, outra doença, o mal de Alzheimer, juntou-se à primeira para aniquilar o dinamismo e a criatividade de um homem inteligente, permanentemente animado e que sempre pediu a Deus para que o mantivesse trabalhando até os últimos dias de sua vida. Amorim Leite
Dangerosíssima. Fazia a Admissão, curso que já não existe mais. Na época (anos 1970), ele era um preparatório oficial para se entrar no Ginásio (atual 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental) em escola estadual. Antigamente, podia-se terminar o Primário (1ª à 4ª série) e pular direto para o curso ginasial prestando um exame, já que as escolas estaduais eram muito concorridas e ofereciam ensino melhor que o das particulares.
Quem não conseguia ir da 4ª série para o 1º ginasial, podia cursar o 5º ano e ainda fazer a Admissão. Não consegui dar esse pulo. E só foi eu terminar a tal Admissão e a lei mudou. Surgiu a famosa 5.692. Agora, é só ter vaga no Estado, matricular-se e… pronto. O problema é que, com a Lei 5.692, também mudou a qualidade de ensino em escola pública. Mas isso é texto para outro dia.
Estudava no Colégio Estadual Professor Gualter da Silva, o maior rival do Instituto Estadual de Educação Alexandre do Gusmão. O Gualter está no Moinho Velho, bairro vizinho ao Ipiranga, enquanto o Alexandre está mais no Centro do Ipiranga. Vermelho era a cor do blusão do Gualter e azul a do Alexandre. Se essas cores se cruzassem, havia confusão certa — algo parecido com o que acontece com algumas torcidas de futebol hoje. Não se podia passar em frente a essas escolas trajando uniforme da rival. Nos Jogos da Primavera, com a participação de colégios de São Paula inteira, Gualter e Alexandre de Gusmão sempre se sobressaíam. Eram muito legais aqueles dias. Tinha-se prazer em vestir a camisa, ou melhor, o blusão da escola.
Foi numa das aulas de Língua Portuguesa ou Literatura — não me lembro ao certo — que me deparei com o termo “dangerosíssima”. Meu professor, Gilberto, um jovem de uns trinta anos, cabelos lisos claros, sempre bem vestido e de óculos que o deixavam com cara de “inteligente”, sentava-se à mesa e nos conduzia à leitura de um livro. Cazuza, de Viriato Correa (1884—1967) foi um dos que lemos. “Dangerosíssima”, porém, estava em um texto de Paulo Mendes Campos (1922—1991). Pensava assim até me sentar para escrever este post. Porém, ao pesquisar para escrevê-la aqui com mais detalhes, só a encontrei em um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902—2002): O homem; as viagens.
Recentemente, fui alvo de arrastão em uma das avenidas dangerosíssimas da região do Ipiranga, a das Juntas Provisórias, que margeia a região do Heliópolis, onde, nos dias da Admissão só havia campos de futebol de várzea. Nessa mesma época, a Favela do Vergueiro, uma verdadeira cidade, acabava de ser extinta e prenunciava ali o bairro do Klabin. Heliópolis nasceu bem mais tarde, como “alojamento provisório”, abrigando famílias da Favela de Vila Prudente, numa tentativa de se acabar com esta, que, aliás, se formou com gente da Vergueiro. Heliópolis se tornou uma das maiores favelas de São Paulo e Vila Prudente nunca se extinguiu. A diferença é que, agora, no lugar dos barracos há casas de alvenaria em ambas as comunidades.
A Copa vem aí e o governo, preocupado com a (falta de) segurança nesses dias, está se preparando para que tudo transcorra na mais perfeita ordem. A nós simples mortais cabe apenas torcer. Torcer para que nossa família tenha o direito de ir e vir sã e salva. Torcer para que a educação com qualidade esteja ao alcance de todos. Torcer para que a saúde seja olhada com mais cuidado e menos brasileiros morram por falta de atendimento decente. Torcer para que possamos viver dias o menos DANGEROSÍSSIMOS possível. Do jeito que está não há brasileiro que aguente!
Ouça aqui o poema O homem; as viagens. Se preferir, leia-o abaixo.
Em tempo: dangerosíssimo não está nos dicionários da língua portuguesa. Drummond, numa licença poética, além de acrescentar à palavra inglesa danger (perigo, em português) o sufixo de superlativo “íssima”, adaptou o adjetivo de maneira que ele soasse lembrando “perigosíssima”.
O homem; as viagens
O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
idem
idem.
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima DANGEROSÍSSIMA VIAGEM
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de conviver.
A propósito da crise que vive o Corinthians, que não consegue vencer há três jogos e, pior, tomou de 5 do Santos, lembrei-me de outra palavra que marcou época em minha vida.
Em 1968, morava no Ipiranga, em São Paulo, na Rua Xavier Curado. Nesse ano, completavam-se 11 anos e 22 partidas que o Corinthians não vencia o Santos. Dizia-se então que era preciso quebrar esse tabu da invencibilidade.
Não se falava de outra coisa naqueles dias. O Santos tinha Pelé. E esse era o nome do problema. Ou melhor, esse era o nome do tabu! Como vencer o rei?
A definição de tabu no Aurélio é muito extensa, mas, resumindo-se, tem-se a ideia de que o termo tem a ver com tudo aquilo que é proibido, perigoso… Aqueles onze anos tinham um sabor de proibido, de maldição — por isso, a necessidade de quebra.
No dia 6, de março, quarta-feira, no Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, o tabu foi quebrado. O Corinthians, finalmente, venceu o Santos: 2 x 0. O site www.todopoderosotimao.com conta:
“No segundo tempo, o Corinthians começa pressionando e Rivelino chuta uma bola na trave. Logo depois, aos 13 minutos, Paulo Borges faz 1 a 0, após uma tabela com Flávio. Melhor em campo, o Timão segue firme em busca do objetivo. Aos 31 minutos, Rivelino lança Flávio, que aproveita a chance e aumenta: 2 a 0. Depois disso, o time só esperou o juiz encerrar para poder comemorar. Fim do tabu. A torcida invadiu o campo e carregou os heróis como se eles tivessem conquistado um título, gritando e cantando: ‘Com Pelé, com Edu, nós quebramos o tabu’”.
Foto: Ivan Pagliarani
Amorim Leite
Vou relembrar hoje algumas coisas que ouvia de minha mãe.
Dona Maria Amorim nasceu no sertão baiano, assim como meu pai e meus irmãos. Viúva, ela veio para São Paulo em 1958 ou 1959. Éramos cinco filhos. Eu, o caçula com três ou quatro anos de idade. Pulando alguns anos de história, lembro-me de minha mãe costurando (ela foi uma excelente costureira) e cantarolando músicas que falavam de nossa terra. Cintura fina, Asa-branca, A volta da asa-branca, Muié rendeira e tantas outras canções se juntavam ao barulho de sua máquina de costura.
Quando parentes nos visitavam ou quando meus irmãos se punham a recordar a dura vida que tinham no sertão, ouvia mamãe falar sobre caatinga, açude, seca e outras palavras que só o nordestino sabe seus significados.
Não sei exatamente em que série estava quando li no livro pela primeira vez a palavra “caatinga”. Naquele dia, pensei: olha só, a palavra existe, não é coisa de minha mãe apenas.
Fui ver de perto a tal caatinga apenas em 2008, quando voltei pela primeira vez ao lugar em que nasci. Sou grato à minha mãe, que, embora soubesse ler e escrever, sem nunca ter estudado (para ter o diploma, fez o Mobral), conseguiu passar para todos os filhos esse gosto pelas coisas do Nordeste. (Aliás, Dona Maria – falecida em 13 de fevereiro de 2011 – com toda sua simplicidade, conseguiu criar e formar seus cinco filhos… Quem sabe, um dia, publico aqui um pouco mais de sua história.)
Ainda hoje, claro, ouço Luiz Gonzaga e consigo entender, pelo menos na teoria, o que ele quer dizer quando canta A volta da asa branca, composição de Gonzagão e Humberto Teixeira).
Ouça aqui, com Marina Elali, neta de Zé Dantas e grande parceiro de Luiz Gonzaga, A volta da asa branca
Amorim Leite
No post anterior, prometi listar algumas palavras que de alguma forma deixaram marcas em mim à medida que passaram a fazer parte de meu vocabulário.
Hoje, vou falar de uma palavra cantada.
Eu morava em Vila Industrial, em São Paulo, na divisa com Santo André. Tinha uns sete anos de idade. Perto de casa tinha um circo montado. Dele me lembro que tinha um serviço de autofalante que tocava direto uma música que, soube anos mais tarde, era o tema do Quarto Centenário de São Paulo, um “chicletinho” composto pelo acordeonista Mário Zan em 1954. Também me lembro de uma atração que, só de ouvir, me dava medo: o globo da morte.
Certo dia, um caminhão atropelou e matou uma velhinha próximo de minha casa e do circo. Aquele caminhão ficou o dia inteiro parado no local do acidente… Ouvi quando um carro da polícia, a então famosa Rádio Patrulha (RP), chegou com a sirene ligada. Não entendia porque a RP tinha ido para lá fazendo esse barulho… Pensava que era para avisar o criminoso de que não adiantava correr, pois a polícia estava chegando… Coisas de criança…
Via isso de longe, não fui lá perto. Minha curiosidade não chegava a tanto. Talvez fosse medo…
Não sei se foi no dia seguinte ou dois dias depois, fez-se o enterro da velhinha. Ouvi novamente a sirene. Dessa vez, era do carro da funerária.
Ao mesmo tempo que o carro da funerária passava (não me recordo de pessoas acompanhando!), o circo tocava uma música. Não era o Mário Zan. Era Ray Charles: I can’t stop loving you.
Nunca mais deixei de associar essa música com aquele momento de minha infância. Ainda hoje, quando a ouço, sinto o mesmo aperto no coração que tive naquele dia…
Quem será que teve a ideia de tocar aquela música na hora em que o grande amor de alguém se foi?
Ouça aqui I can’t stop loving you.
Amorim Leite