Vou relembrar hoje algumas coisas que ouvia de minha mãe.
Dona Maria Amorim nasceu no sertão baiano, assim como meu pai e meus irmãos. Viúva, ela veio para São Paulo em 1958 ou 1959. Éramos cinco filhos. Eu, o caçula com três ou quatro anos de idade. Pulando alguns anos de história, lembro-me de minha mãe costurando (ela foi uma excelente costureira) e cantarolando músicas que falavam de nossa terra. Cintura fina, Asa-branca, A volta da asa-branca, Muié rendeira e tantas outras canções se juntavam ao barulho de sua máquina de costura.
Quando parentes nos visitavam ou quando meus irmãos se punham a recordar a dura vida que tinham no sertão, ouvia mamãe falar sobre caatinga, açude, seca e outras palavras que só o nordestino sabe seus significados.
Não sei exatamente em que série estava quando li no livro pela primeira vez a palavra “caatinga”. Naquele dia, pensei: olha só, a palavra existe, não é coisa de minha mãe apenas.
Fui ver de perto a tal caatinga apenas em 2008, quando voltei pela primeira vez ao lugar em que nasci. Sou grato à minha mãe, que, embora soubesse ler e escrever, sem nunca ter estudado (para ter o diploma, fez o Mobral), conseguiu passar para todos os filhos esse gosto pelas coisas do Nordeste. (Aliás, Dona Maria – falecida em 13 de fevereiro de 2011 – com toda sua simplicidade, conseguiu criar e formar seus cinco filhos… Quem sabe, um dia, publico aqui um pouco mais de sua história.)
Ainda hoje, claro, ouço Luiz Gonzaga e consigo entender, pelo menos na teoria, o que ele quer dizer quando canta A volta da asa branca, composição de Gonzagão e Humberto Teixeira).
Ouça aqui, com Marina Elali, neta de Zé Dantas e grande parceiro de Luiz Gonzaga, A volta da asa branca
Amorim Leite