Dando continuidade à lista de ideias e costumes em cerimônias de formatura, hoje vou escrever sobre os con-vites. Meu primeiro contato com eles também foi na Spínola, uma das pioneiras do ramo de formatura.
Essa empresa já não existe, mas deixou seu legado. Muito do que se vê por aí teve seu início na Spínola. Principalmente os textos e modelos dos convites. Fui contratado pela empresa como técnico em artes gráficas. Felizmente, trabalhei sem-pre muito próximo da Evani, chefe do setor de Produção de Contratos e esposa do José Luiz Spínola. Meu papel era preparar os convites para execução a partir da descrição do vendedor ou representantes instalados nos escritórios regionais em Curitiba, Belo Hori-zonte, Rio de Janeiro e Recife. Minha colega, a Malu, cuidava dos contratos fechados pelos vendedores de São Paulo. Eu, dos que vinham dos regionais.
O recorde de contratos fechados passou dos quatrocentos numa temporada. Nessa época, as festas ainda não integravam o pacote oferecido pelas empresas. Seus principais produtos eram o convite, a participação (convite simplificado), o canudo e as placas de homenagem para os professores. Fotos, filmagem e bandas de baile eram contratados diretamente pelas comissões de formatura.
Até os anos 1990, o carro chefe das empresas eram os convites. Por isso, no início de cada ano, quando se faziam os primeiros contatos junto às comissões de formatura, as empresas sempre tinham uma coleção nova. Para se ter ideia de como isso era levado a sério, na Spínola, redator e designer eram contratados para desenvolver sigilosamente as novas coleções. Quando tudo estava pronto, toda a área comercial passava o dia numa espécie de convenção de vendas e ali era apresentada a coleção.
Essa coleção tão esperada vinha numa mala muito grande especialmente confeccionada — e tinha nome. Uma das últimas chamava-se Cultural 80. Conta-se que, certa vez, Abbud, um vendedor muito forte — uns 120 kg de massa e quase 2 metros de altura — foi participar de uma reunião de apresentação dos produtos a uma comissão de formatura no interior de São Paulo. Encontrando a porta trancada pelo concorrente, não teve dúvida: lançou mão do mostruário e usou-o como ferramenta para destruir a fechadura daquela porta, tal era o peso da mala. Sua iniciativa teve êxito — o contrato foi assinado com a Spínola.
Houve um tempo em que não se podia falar de convites de formatura sem pensar em veludo, acessórios metálicos e hot stamping (gravação a quente). Os convites gráficos, sem veludo e sem acessórios, eram considerados “de segunda”. Alguns vendedores se recusa-vam a levar em seus mostruários opções que não fossem de veludo. Como imaginar um curso de direito, engenharia ou medicina sem um convite emperiquitado?
Muitas vezes, a capa do convite, sozinha, era responsável por mais de 50% do valor de venda do convite, pois os vendedores gostavam de enfeitá-la: tinha de ser dura (veludo empastado em papelão de 2 ou 3 milímetros de espessura), ter sobrecapa e incluir medalha cunhada com o emblema do curso — Hipócrates, por exemplo, para medicina —, moldura também cunhada, chapa de latão com o nome da faculdade impresso em silk screen (serigrafia) e gravação em hot stamping com o nome da turma ou ano da formatura.
Até pouco tempo, havia uma procura muito grande por modelos temáticos, demandando muita pesquisa tanto de texto como de imagem. Eu mesmo ajudei a Dorana Forte Real a produzir vários deles para turmas de direito, administração, medicina e engenharia. Grá-ficos e impressos em offset, esses modelos, além das fotos das turmas por classe, incluíam junto ao nome do formando uma minifoto identificando-o.
Muita gente guarda até hoje o convite de formatura. Valioso tanto quanto o diploma recebido, de luxo ou não, ele será sempre o símbolo desse rito de passagem que tem atra-vessado gerações e gerações. Embora já se tenha tentado transformá-lo em CD (veja meu post aqui), será que, em plena era digital e com todo esse movimento de preservação do meio ambiente, o convite continuará se apresentando do mesmo jeito? Alguém tem uma ideia?
Amorim Leite
Acredito que os convites irão persistir e resistir aos modismos de preservação ambiental sim, ótimo texto Amorim, como sempre enriquecedor!
Saudades desta época. Hoje mal se compra 1 convite…..as próprias empresas descartam pois dá muito trabalho. Induzem os formandos a usarem este dinheiro para contratar uma banda a mais para o baile…entre outros..
Para falar em convites de formatura, não podemos esquecer de falar do Jarbas Monteiro. Ele revolucionou mercado, sendo considerado (inclusive, pelo ( Sr José Luiz Spínola) o grande gênio de criação e de vendas no ramo.. A primeira empresa de convites chamava-se Iresjó (Industrias reunidas São José), hoje Artes produções Gráficas, a melhor empresa de certificados e diplomas do ramo. O Jarbas começou com eles, mas depois trabalhou na Fabulosas que era dos irmãos Spínola e a convite deles, foi trabalhar na Spínola Gráfica e Editora, na Rua José Bento 106/116 , hoje abrigando a Cartoon Art, também fundada pelo Sr, Jarbas, lógo que se desligou da Spínola. O Amorim esqueceu de citar o Marcos, filho do jarbas que trabalhou na mesma sala com ele, junto com o Raul, desenvolvendo uma nova linha de convites flocados que revolucionou o mercado na época. Ele também foi considerado um gênio em criação e hoje é dono da Xpto Formaturas, sendo uma das melhores empresas de convite de formatura do ramo..
Tem muita gente que esquecí de citar que foram importantes para a Spínola, para Cartoon Art e outras empresas do ramo, como o MIguel Bastos, Jaime Barella, Auro Montini, Paulo e Helio Giannini, Waldomiro Saad, José Maria, e Casimiro Manuel de Souza, que trouxe para Spínola, o Gregório Perez Gomes (designer e diretor de artes) e Eduardo Baffa (redator) todos da Alcântara Machado. Eles foram os responsáveis pela criação e pela nova era dos convites culturais no Brasil, mas infelizmente, os convites não venderam muito, porquê estavam além daquele tempo.
O Zé Luiz foi quem mais investiu nesta época (1976/77) fazendo os work shops, com todos os vendedores e os melhores professores de marketing e de vendas do Brasil, membros da ADVB, etc. Ficávamos hospedados no Delfim Hotel no Guarujá, durante uma semana, para receber o mostruário e o treinamento. Bons tempos aqueles. Um dos melhores amigos do José Luiz no ramo, foi o Marcos, filho do Jarbas. Eles nunca deixaram de ser amigos. Dois diasw antes da morte do Zé Luiz, eles se falaram por telefone. O Zé admirava muito o Marcos e vice-versa.
Paulo, não me lembro de você… Muito pertinentes seus comentários. Obrigado pelas informações complementares. Se puder me ajudar, me conte um pouco da Montini. Logo que entrei no ramo, a empresa fechou e a Spínola ficou com as medalhas do Auro. Um forte abraço!
Olá Amorim. Quando você entrou no ramo eu estava saindo. Enviei um email pro Marcos, falando sobre este blog. Ainda mantenho contato com ele por causa da música. O Marcos pode dar estas informações, porquê ele ficou como depositário fiel da massa falida da Montini, depois adquirindo as máquinas. Lembra do Casimiro, que era sócio na Spinola? Ele foi sócio do Marcos na MBM Gráfica e Editora. Sei que as medalhas e cunhos do Auro, ficaram com ele em outra empresa, mas não sei o nome. O Marcos está por dentro de tudo o que aconteceu na Montini. Ele foi diretor de arte, produtor gráfico e sócio do Auro no inicio da MBM. Ele falou que ia tentar fazer contato com você. Grande Abraço!
Obrigado mais uma vez, Paulo!
Tambem tenho muitas saudades dessa epoca, onde o cliente tinha que mandar o texto, a empresa diagramar, enviar para a LINOTIPADORA CAMBUCI e ficar no pé do Mingo e do Ivan o Terrivel, mandar para o Sr. Caetano paginar e ficar resmungando, pegar o boneco carimbar mandar para a comissão revisar ou sentar com SR. Miguel fazendo revisão direta, e o Armando brigando que tudo iria ficar atrazado, stressar o Amorim e passar o final de semana com D. Evani na gráfica, colando filigrana e medalha. Tudo pronto, procurar transportadora. E o Carlão derubando aviao. Greve dos graficos no meio da temporada, piquete na porta. Hoje tenho saudades disso e de você Amorim, quando colocava chicletes comtinta na gaveta. Brigando comigo e com a Verinha, isso parece que foi ontem mas ja se passarao 28 anos.