Li isto alguns anos atrás e nunca mais esqueci: atravesse a rua e, do outro lado, olhe para seu negócio e pense o que faria um cliente entrar em seu estabelecimento e não no do vizinho.
Baseado nessa sugestão, pedi a Juvenal, um amigo, que fizesse isso para mim em algumas solenidades de colação de grau. Ou seja, que fosse para “o outro lado da rua” e narrasse o que viu. Parte de seu “relatório” apresento aqui de maneira resumida.
Em certo salão, Juvenal apresentou-se como convidado a uma das recepcionistas e perguntou onde era o toalete. A moça, simpática, mascando chiclete sem parar, puxou para cima a blusa que lhe apertava os peitos e os fazia saltar para fora além do necessário e, claro, disse que não sabia. “Está vendo aquele ‘home’ [segurança] ali em pé?”, complementou. “Pergunta pra ele. Ele é daqui [do salão].”
Depois de aguardar um bom tempo em pé, no hall de entrada, finalmente meu amigo entrou no auditório. Embora no convite que recebeu, o início do evento tenha sido indicado para as 19h30, apenas às 19 horas é que o auditório foi aberto para o público. E, mesmo assim, ele ainda assistiu ao ensaio do coral e à passagem do som com aqueles famosos “ei, ei”, “um, dois”, “som”, “teste”…, sem contar a instalação de telão e outras arrumações que deveriam estar prontas pelo menos duas horas antes.
Por volta das 20 horas (o horário no convite era 19h30, lembra-se?) alguém anunciou pelo microfone: “Senhores ‘formando’, por favor, se ‘dirija’ ao ‘rol’ de entrada para a formação da fila de entrada”. Juvenal achou isso um absurdo. Primeiro pela ausência dos esses nas palavras. Depois, pelo pedido em si: “Formação da fila”! Brega pura!
Antes de o evento começar, várias músicas foram cantadas pelo grupo (coral) que se apresentaria durante o evento. Uma espécie de prefixo musical (vinheta) anunciou o início da solenidade. Pelo jeito, cinegrafistas, fotógrafos e seguranças não foram avisados disso. Ninguém estava no “posto”. Foi um corre-corre só. Gente correndo de um lado para outro do palco. A cerimônia começou no escuro. Demorou para a imagem do mestre de cerimônias ser projetada nos telões.
Os formandos entram. Desespero no palco: faltaram cadeiras. Alguém contou errado o número de formandos… Pela forma como o palco foi montado, não havia lugar para mais cadeiras… Restaram lugares apenas atrás da mesa dos professores. E é lá que os formandos-sem-lugar ficaram: longe da turma, fora de ordem alfabética e, claro, com cara de quem estudou e não gostou!
Juvenal também me disse que, enquanto os formandos entravam, ao som de uma música bem própria para exercícios em academia de musculação, um segurança, postado no mezanino do salão, pediu ajuda, aos gritos — onde estavam os rádios intercomunicadores? — ao colega que estava embaixo, pois uma formanda que ainda não tinha subido ao palco estava passando mal e queria água!
E veem os discursos. Um desfile de alunos malpreparados e mal-orientados. Textos de conteúdo duvidoso e editados a partir de colagem de mensagens impressas em convites de formatura das diversas empresas do mercado. Palavreado solto, sem nexo e, às vezes, até chulo. Foram oito discursos, incluindo os dos paraninfos. Muito cansativo para alguém que estava ali desde às 18h30 – horário em que os formandos tiveram de chegar para suas tradicionais fotos…
Músicas. As mesmas de sempre: É preciso saber viver, Pescador de ilusões, Como é grande meu amor por você. Nada de novo. Apenas os cantores “animando” a turma e pedindo para se acompanhar a música “na palminha da mão”. Epa! “É show ou solenidade de colação de grau?”, questiona Juvenal.
Chamada nominal. Literalmente, uma muvuca, segundo meu amigo. Fotógrafos apertando professores à mesa para obter o melhor ângulo. Horrível! Em certo momento, professores tiveram de se levantar do lugar para que o fotógrafo pudesse trabalhar. “E se à mesa estivessem assentados o presidente da República, governador do Estado ou outra autoridade?”, pergunta meu amigo. “Será que eles também teriam de ficar em pé para o fotógrafo trabalhar?”
Onde está meu canudo?
De repente, outro corre-corre. Juvenal não tem certeza, mas, pelo que percebeu, faltaram canudos. Isso mesmo: faltaram canudos. Ele acha até que viu algumas recepcionistas pedindo de volta alguns para os formandos que já tinham sido chamados… E isso se confirmou. Quase no final do evento, um funcionário da empresa organizadora passou pelo auditório com uma caixa, o que o levou a concluir que eram os canudos atrasados chegando da empresa. Mais tarde, Juvenal, conversando com alguém da empresa organizadora com quem fez amizade, soube que faltar canudo era problema frequente e que, às vezes, até becas não vinham em quantidade suficiente para atender os formandos. E isso é grave, pois o formando não pode receber seu certificado — simbólico ou não — sem beca!
Sobre as transmissões simultâneas no telão, Juvenal também tem algo a dizer. Segundo ele, alguns telões são pequenos demais levando em conta o tamanho do auditório. Aliás, em alguns salões são necessários mais de um. Dois pelo menos. Um de cada lado. Recentemente, um dos telões que viu estava cheio de ondas, talvez em função do material utilizado na fabricação — será que era mais barato?
Sem usar tripé, os cinegrafistas sofriam para manter a estabilidade da câmara. Por isso, o que se viam nos telões eram imagens tremidas e malselecionadas. Enquanto o orador ou o paraninfo falavam, projetava-se a imagem de formandos dando tchauzinho, beijinho ou fazendo coraçãozinho. O auditório ria e o orador ficava com cara de bobo, pois não sabia o que estava acontecendo. E novamente meu amigo questiona: o que aquelas imagens queriam dizer? Por que eram projetadas naquele momento? Cadê o editor de imagens? Pois o mesmo funcionário que lhe tinha falado dos canudos e becas lhe disse: “Com editor de imagens, o evento encarece. Então, os cortes são feitos pelo próprios cinegrafistas”, explicou. “Aí, na hora de editar o DVD, ‘nóis tira as tremida’”. Entendeu agora?
Infelizmente, não há exagero neste texto. Claro que tudo que aqui foi narrado não aconteceu no mesmo dia, no mesmo local e com a mesma empresa. Mas aconteceu. E só há um jeito de se corrigir isso: é o dono da empresa de formatura fazer o que meu amigo fez ou pedir para alguém de sua confiança se misturar com os convidados num evento e ter a visão deles. Aliás, isso pode começar com um telefonema. Experimente ligar para sua empresa sem se identificar e dizer que está com um “problema” e gostaria de ser ajudado. Começando pela telefonista, você saberá como seu cliente é tratado.
Não basta ter uma sede bem-instalada, uma logomarca bonita e frota adesivada, se seu cliente aguarda na linha enquanto a espera telefônica pede mais um tempinho. O consumidor quer agilidade e atenção — desde o atendimento na empresa até a entrega do último produto ou prestação do serviço. E, como dizia José Luiz Spínola, o homem que inventou as formaturas, o formando e seus convidados querem se sentir como reis no evento. Por isso, o certo é estender um tapete vermelho para eles.
Empresários de formatura, lembrem-se: quando se olha de fora para dentro vêm-se diferenciais.
Amorim Leite