Um dos textos que mais gosto de ler no momento do culto em colações de grau, principalmente das de cursos de exa-tas, é um soneto sobre o tempo. Sempre que o declamo, alguém me pede uma cópia.
Escrito pelo frei português Antônio das Chagas (1631-1682), ele é uma agradável brincadeira com as palavras ‘tempo’ e ‘conta’.
Para quem aprecia belas composições poéticas, aqui está ele.
Soneto
Deus pede hoje estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta
Eu que gastei sem conta tanto tempo?
Para ter minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, tendo tempo, fazer conta.
Hoje quero fazer conta e não há tempo.
Oh! Vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo em fazer conta.
Pois aqueles que sem conta gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, se não der tempo.
Amorim Leite