O sapo pode não lavar o pé, como diz a can-ção infantil, mas isso não o impede de se formar também. Veja só este caso.
Novamente estamos no Palácio das Con-venções do Anhembi, em São Paulo. Era a solenidade de colação de grau dos for-mandos da Faculdade de Comunicação Social do então Instituto Metodista de En-sino Superior (IMS), hoje Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Já estávamos caminhando para mais da metade do evento, quando percebi a agitação do lado dos formandos. Para quem nunca foi a uma formatura no Anhembi, vale dizer que os formandos ficam no palco. À frente deles, a mesa solene. À direita, olhando-se para o palco (na visão de quem está na plateia), na mesma direção da mesa, fica a tribuna.
Não me lembro exatamente em que parte do cerimonial estávamos. De repente, um sapo aparece. Estava embaixo das cadeiras dos formandos. Quando vi aquilo, pensei: o Anhembi está mesmo decadente, nem ralos estão tampados… por isso, os sapos do rio Tietê vêm parar aqui. Ainda estava concluindo esse pensamento, quando vi mais sapos. Um, dois, cinco, dez… Parei de contar e dei um jeito de aquilo não atrapalhar o andamento do evento.
Mas não adiantou. O bombeiro de plantão a serviço do Anhembi, sem se dar conta do que estava acontecendo, entrou no palco e ainda chutou um dos anfíbios. Os professores sentados à mesa solene levantavam as pernas de medo. Os formandos só riam. Roberto Duailibi, patrono da turma de publicidade, se não me falha a memória, não gostou do que viu e se retirou (ele já tinha discursado). O patrono da turma de jornalismo era Carlos Nascimento, apresentador do Jornal Nacional, por isso se atrasou. Chegou exatamente na hora em que os sapos pulavam. Passei-lhe a palavra e ele deu conta do recado, incluindo em sua mensagem alguma coisa ligada a sapos. Já se sabia, então, que a presença daqueles anfíbios na colação era fruto da mente criativa dos formandos.
Como não havia outro jeito, prosseguimos com a solenidade. Era hora de se homenagear os pais. Embaixo, na primeira fila, ficavam os integrantes do coral. Naquela noite, a música estava por conta do Dimensão 5. Aos vocalistas se juntaram alguns dos sapos. Wilma, em pé, posicionou-se para cantar. Seus colegas continuaram sentados. E os sapos, agora, de frente para ela. “Perdoem a cara amarrada…”. E os sapos olhando para ela. “Perdoem a falta de ar…” E os sapos olhando para ela, como se entendessem o que a Wilma queria dizer com a canção de Ivan Lins. Os demais integrantes do grupo, no entanto, não se continham: riam o tempo todo, pois, por mais que se esforçasse, a vocalista não conseguia conter o medo de que um daqueles novos fãs pulasse em suas pernas. Pelo jeito, a música agradou também aos anfíbios anuros e nada aconteceu à vocalista. Terminada a música, uns bons goles de água a acalmaram.
No ano seguinte, conversei com o diretor do IMS sobre a ocorrência. Soube então que os sapos eram cinquenta rãs. E a ideia de se levar convidadas tão exóticas para a celebração foi de um formando. A direção da instituição identificou o jovem, não liberou seu diploma e ainda chamou os pais para uma conversa. Por ter ascendência oriental e criação mais rígida com relação a alguns princípios, o formando acabou sendo punido também pelos pais.
Moral da história: mestre de cerimônias, além de ter jogo de cintura, precisa engolir sapos!
Amorim Leite
Credo, o cara é muito sem noção, a alguns parece engraçado, mas para os que estão se formando trata-se de uma solenidade recheada de significado, como dizem, “foi um elefante em loja de porcelana”.
Pai, adorei esse texto! Rs rs rs… Tenho certeza que eu não acharia nada engraçado, principalmente se eu estivesse me formando e você fosse o mestre de cerimônias. Te amo!
Uau! N!ao organizo formaturas, mas organizo congressos e espero que nunca apareçam por lá kkkkk muito bom, saudades.
Muito bom este seu texto Amorim.
Estou rindo até agora.
Valeu.
Obrigado, Ivan!
Amorim, adorei o seu blog!!! Li todos os textos recentes e morri de rir com o texto dos sapos, só faltou vc colocar que a organizadora do evento “eu” ficou no fim da colação recolhendo com as próprias mãos todas as rãs e soltando-as no jardim e que fui posteriormente chamada no Anhembi para prestar esclarecimentos sobre a discussão que tive com o bombeiro por ter matado a rã na sua tribuna. Que saudades, não das rãs, mas das colações e do meu mestre de cerimônias preferido.
Abraços
Lina
Você é lina… ôps! Você é linda! Obrigado!
Linamari e Marinho que ficarão correndo atras das rãs, e o Serginho Groissman tambem estava na mesa solene naquela noite, levantou as pernas cruzou na cadeira e estava com expressar de pavor, bjs