Desde que comecei a apresentar solenidades, sejam corporativas ou de colação grau, incluindo as festivas (não oficiais), sempre me chamou a atenção a música e a maneira como é inserida no evento. Ela é essencial e, portanto, item indispensável em um cerimo-nial. É como uma trilha sonora de novela ou filme. Colocada no lugar e no momento certo, ela faz a diferença: fala, emociona e marca a festividade. Claro que isso depende muito do repertório e do grupo vocal. Esse é o ponto.
Quando as colações de grau festivas começaram a emplacar, nos anos 1980, era muito comum se contratar um coro para participar. Em São Paulo, os mais requisitados eram o Baccarelli e o Comunicação São Paulo. A partir da década seguinte, bandas começaram a disputar o espaço com os coros. Algumas, como a Réveillon, Super Som TA e Saint Paul, apresentavam-se quase que com a formação completa de baile: vocais, percussão, teclado, metais, etc. – tudo ao vivo. Com o tempo, os coros deixaram de ser contratados e, até hoje, as bandas estão fazendo o papel de “coral”, mesmo apenas com um cantor ou cantora e um teclado – às vezes até só com playback.
O maior problema continua sendo o repertório. Como a colação de grau (festiva ou oficial) tem caráter solene, é preciso tomar cuidado não só com a escolha das músicas (conteúdo, mensagem) mas também com a forma como ela é apresentada (performance, figurino). E isso vai da entrada dos formandos, passando pelo momento do culto e homenagens, ao encerramento. Três ou quatros anos atrás, a pedido da comissão de formatura, uma ceri-mônia de colação de grau foi encerrada com a participação de uma escola de samba. Assim, sob os aplausos e delírio da galera, a passista, seminua, dançava no palco, bem na frente do representante da reitoria. Detalhe: era a colação de grau de um curso da Universidade Mackenzie, instituição mantida por um instituto presbiteriano (evangélico)! Depois desse evento, a mantenedora proibiu a presença de um representante seu em solenidades não oficiais, ou seja em colações festivas.
Entre as escolas não católicas, há ainda, em São Paulo, a adventista Universidade de Santo Amaro (Unisa). Sua direção, como também a do Mackenzie, prefere que não se cante em suas colações de grau, mesmo festivas, Ave Maria, de Gounod.
Na época dos coros, até que o repertório não era ruim: os formandos entravam ao som da Marcha triunfal da ópera Aída (Verdi), Pompa e circunstância (Elgar) ou Carruagens de fogo (Vangelis), por exemplo. Para homenagear os pais, clássicas como Se todos fossem iguais a você (Jobim), Paz do meu amor (Luiz Vieira) e Fascinação. Entremeando os discursos, ouviam-se Coração de estudante e Canção da América, ambas de Miltom Nascimento.
Algumas dessas canções ainda são cantadas hoje. Porém, é preciso renovar. E com cuidado. Como nossos pais (Belchior) e Pais e filhos (Renato Russo) são lindas. Mas não podem ser cantadas em homenagem aos pais. A primeira porque os “pais” citados na música se referem aos mentores intelectuais do compositor. Veja o que ele diz: “A minha DOR é perceber que, apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. E diz também: “Hoje eu sei que quem me deu uma nova ideia de consciência e juventude tá em casa guardado por Deus contando o vil metal”. Pais e filhos, por sua vez, é lembrada pelo refrão “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. No entanto, no todo, a música é apenas um apanhado de frases de filhos sem muita conexão. Até sobre tentativa de suicídio a música fala…
Precisa-se, urgente, de novas músicas. Para ajudar, semana que vem postarei algumas sugestões, incluindo, para referência, as mais executadas de ontem e de hoje. Se você quiser colaborar, envie sua sugestão. As bandas (corais) agradecem! O desafio está lançado.
Amorim Leite